sexta-feira, 25 de novembro de 2011

4ª e última Quimio "vermelhinha" e teste psicológico...

Ontem fiz a minha 4ª sessão e última da quimio vermelhinha, a famosa bomba doxorrubicina + ciclofosfamida,  adeus dupla dinâmica, espero não te encontra tão cedo...
Dá um certo alívio, saber que uma parte do tratamento já se foi e agora começa uma nova etapa. Uma sensação de dever cumprido. E vamos para a próxima batalha!!
Normalmente fazer as aplicações de quimio são tranquilas, faço na própria clínica da oncologista e o ambiente é muito bom, aconchegante para o que se destina né...
Mas ontem foi meio punk, sentei e já tinha uma senhora tomando o medicamento dela, dei bom dia e fiquei na minha esperando meu "drink havaiano" (pensando assim fica mais fácil a espera)rs.
A mulher começou a conversar e junto com a conversa começaram as queixas, que ela estava cansada, que era muito difícil, que estava entrando em depressão, que o caso dela era uma recidiva e que ela estava desistindo, e blábláblá. Fiquei com pena e claro, como minha língua não consegue ficar dentro da boca, comecei a falar.
- Olha não fique assim, tem que ser forte, se animar, encarar o tratamento, sei que é difícil mas tem que lutar, ainda que temos a opção de se tratar, tanta gente se recupera, tem muita coisa nova vindo por aí, as pesquisas estão cada vez mais avançadas e blábláblá (não deixei barato e também despejei meu blábláblá né...)
Aí, não convencida claro, pois ela estava certa de que a vida era uma droga e que tinha que me convencer daquilo também, começou a falar:
- Olha, não se anima pq essa doença não tem cura... (pau, direto de direita na minha fuça!), a gente se torna escrava dela e toda hora que vc acha que está bem, aparece uma coisa nova, é pro resto da vida, a gente vai morrer disso, e lá foi mais um monte de blábláblá, falou até mal do Gianecchine e do Lula, que estão sempre rindo e felizes pq ainda não caíram na real (essa eu achei que foi uma indireta...)
Eu, que não sou boba nem nada fiquei quieta, pois minha psicologia tem uma certa limitação e achei que se argumentasse com ela naquele momento de fúria em que se encontrava, estava correndo o sério risco dela me fazer engolir literalmente meu drink vermelhinho e sem gelo.
Depois que ela se acalmou, e acho que viu o quão alterada estava e o tanto de m... que falou, tentou um assunto mais ameno pra ver se eu ainda estava viva ou se tinha enfartado lá mesmo, na minha relaxante cadeirinha.
Acabei ficando com mais pena dela, pois realmente está num processo depressivo a olhos vistos, e rompi meu silêncio (que a essa altura deve ter durado uns "longos" 10 minutos, que é meu limite máximo) e comecei a conversar com ela.
Falamos bastante, sobre a vida, as escolhas, filhos, família, o quanto a cabeça da gente muda depois de uma certa idade, e a conversa se desenrolou até que ela se animou um pouco.
Sei que no fim, ela estava rindo, falando dos bichos que ela tem, e acabou me dando um beijo pra se despedir, eu até estranhei a mudança, mas fiquei feliz por ela.
Não deu 2 minutos e desceu uma outra paciente, eu lá quietinha, esperando aqueles pingos infindáveis acabar pra ir embora.
Ela sentou do meu lado e já me perguntou se eu me incomodava se ela tirasse a peruca. Respondi que não, é claro, e aí percebi que aquele, realmente, não era o meu melhor dia...
Ela tirou a peruca, começou a coçar e coçar e coçar aquela careca, e junto começaram as reclamações, lógico.
- A gente vira um "nada" depois que descobre essa doença né...
Eu quieta, só dei um sorriso, pois minha experiência anterior não havia sido muito boa...
Aí ela continuou,
- É um horror, não consigo me olhar no espelho até hoje, não me aceito assim sem cabelo, é mais forte que eu, tinha um cabelo longo, estava com um megahair até a cintura, a coisa mais linda (será? naquela idade? Abafa o caso...), aliás, nada na gente é mais nosso, tudo se torna artificial, o cabelo é falso, as unhas são falsas, os peitos são falsos, nada é natural e nosso de verdade, nos reduzimos a um "ser artificial"... (cruel essa né...)
Só concordei, dei uma risadinha, aqui outra ali, e larguei o pepino para a Luciana, a enfermeira que nos acompanha, descascar dessa vez.
Mas fiquei pensando, pois ela tinha um lábio lotado de silicone ou sei lá oque, mas com certeza aplicou qualquer coisa ali era fato, a testa era puro botox, as unhas ela comentou que fez num lugar perto do aeroporto que já estava acostumada e sempre fazia a unha de gel, pois é pratica, dura, etc. então já usava ...
Aí pensei, CARAMBA! Como as pessoas são engraçadas, nunca estão satisfeitas com nada, quando ela estava boa, se enchia de botox, aplicação nos lábios, alongamento nos cabelos,  unhas de porcelana, e isso tudo não era artificial? Naquela época não incomodava o fato de estar com um monte de coisas artificias? Só agora se tornou um "ser artificial"?
Então, se é pra se lamentar por ter esse monte de coisas artificiais que ela citou, imagina a Angela Bismark e tantas outras modelos e atrizes, que devem ter mais silicone no corpo do que o sangue? Só porque elas não estão com CA, não é artificial?
Concluí que as mulheres nunca estão satisfeitas, quando estão bem, reclamam que estão gordas, aí operam sem reclamar, sofrem as dores felizes, colocam alongamento nos cabelos,  colocam silicone, aplica isso, aplica quilo, se enche de coisa e se acha linda. Agora, se for necessário, aí ela não quer usar nada disso, quer sua beleza natural.
Que ser complexo que é o bicho MULHER!
Claro que não me excluo totalmente de muitas coisa que citei acima, faço parte desse grupo, pois nasci mulher, mas não fico reclamando de ter que usar peruca ou qualquer outra coisa para melhorar a aparência nesta fase por pura necessidade e não por minha vontade. Uso, incomoda? Sim me incomoda as vezes, mas uso pois preciso.
Poxa, temos que agradecer todos os dias o fato de existir cabelos postiços, cilios postiços, unhas postiças, tetas postiças (dessas eu não precisei), etc...
É a tecnologia usada ao nosso favor!

3 comentários:

  1. OI Mirella !!!!
    Que bom saber q vc ta reagindo bem ao tratamento e ja terminou a primeira fase!!!!
    Essas consersas durante as quimios as vezes sao boas e outras nem tanto ,tb tive uma conversa nao muito boa ,justo na ultima quimio ...podia ter terminado sem essa ..rsrss
    BJS
    Luciane

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  2. Imagino que deva ser muito difícil conviver com um desafio tão grande, mas creio que Deus nos mande recados para que possamos rever nossos conceitos, mudar nossas atitudes, dar valor às nossas vidas. Pena que muitos não entendem os recados e se dedicam a aumentar o próprio sofrimento.
    Mantenha seu astral incrível - da próxima vez, leve um player e escute sua musiquinha se alguém tentar atrapalhar seu sossego.
    De qualquer forma, você melhorou o dia amargurado de alguém e certamente ganhou uns pontinhos positivos com o cara lá de cima.
    Bejos !!!!!

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  3. Mirella, comecei a ler seu blog hoje. Tenho um câncer no canal anal e busco inspiração em pessoas que estejam passando por situação igual ou parecida com a minha - até agora não achei nem um blog de alguém com o mesmo tipo de câncer que eu!
    E queria compartilhar que meu maior medo até agora é dessas pessoas "pra baixo", que nos levam para a cova, sabe? Eu sei que dores são inevitáveis mas as possibilidades diante delas, nossas posturas e atitudes são infinitas! Parabéns por suportar bem estes percalços. Desejo tudo de bom e pronta recuperação.
    Se puder, visita meu blog (http://pandegapanda.blogspot.com/) também! Beijocas, força!

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